RESENHA da Obra de SANTOS,
Saionara Ferreira Araújo dos. Qualidade
de vida e bem-estar espiritual em pessoas vivendo com HIV/AIDS: revelando
vulnerabilidades sob a luz da resiliência / Saionara Ferreira Araújo dos
Santos, José Antônio Novaes da Silva. - João Pessoa: Editora da UFPB, 2013.
Leilany Campos Barreto
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Estudante do Curso de Licenciatura em
Ciências Naturais - UAB virtual
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leilanycampos@hotmail.com
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QUALIDADE DE
VIDA E BEM-ESTAR ESPIRITUAL EM PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS: revelando
vulnerabilidades sob a luz da resiliência é uma obra rica em dados coletados no
Serviço de Assistência Especializada – SAE, localizado no Hospital
Universitário Lauro Wanderley, localizado no Campus I da Universidade Federal
da Paraíba, município de João Pessoa – Paraíba. A mesma aponta e trás questionamentos
que nos leva a refletir sobre o assunto. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida ou sida, conhecida
pela sigla inglesa aids (AcquiredImunodeficiencySyndrome), cada vez mais
é considerada um grande problema de saúde pública no cenário mundial em face da
sua gravidade e do seu caráter pandêmico.
Saionara
contextualiza que a pessoa com AIDS apresenta reações emocionais em diferentes
fases da evolução da doença. Inicialmente persiste uma crescente dúvida quanto
ao diagnóstico da soropositividade, isso se relaciona às reflexões e busca de
justificativas a comportamentos de risco e a negação da doença. O conhecimento
do diagnóstico provoca um choque emocional que pode desencadear uma preocupação
excessiva, e a dificuldade em compartilhar essa terrível informação, podendo
ocasionar depressão e ansiedade diante da provável perda da autonomia, do
futuro e da morte, e nesse momento muitos buscam apoio emocional nas suas
crenças e ou religiões. Percebendo a religião, religiosidade e espiritualidade como
objeto de inúmeros estudos, nas mais diferentes áreas, observo que na saúde é
um aspecto importante e necessário, uma vez que o ser humano recorre a elas em
busca de apoio diante das situações difíceis de serem vivenciadas. Portanto, o ser humano precisa ser
percebido e cuidado como um ser integral, detentor de corpo, alma e espírito.
Através de vários estudos a
autora mostra que a resiliência envolve fatores de risco e de proteção, pois a
definição de resiliência, a partir da compreensão da interação do individuo com
o seu ambiente, implica o entendimento dinâmico dos chamados fatores de risco e
proteção. Os fatores de risco são os eventos de vida que, quando presentes,
aumentam a probabilidade de o indivíduo apresentar problemas físicos,
psicológicos e sociais.
A autora
salienta também a dificuldade de entender a característica do resiliente, portanto, não é ser
invulnerável às adversidades. Pelo contrário, o resiliente é alguém que sofre
sim, que vive este sofrimento, que faz com que as experiências passem por
dentro de si e o tornem mais forte, como o ouro depurado pelo fogo. A
compreensão nos leva a entender que a resiliência o estudo das pessoas que se
adaptam/superam as adversidades, e o coping o estudo das estratégias
utilizadas pelas pessoas frente às adversidades, fica claro que ambos os
conceitos estão intimamente correlacionados.
Saionara
seleciona e pauta com muito cuidado varias dimensões como a introdução do
conceito de qualidade de vida - QV como medida de desfecho em saúde surgiu a partir
da década de 70, no contexto do progresso da medicina. Este trouxe um
prolongamento na expectativa de vida, na medida em que doenças anteriormente
letais (por exemplo: infecções, câncer, HIV/AIDS, entre outras) passaram a ser
curáveis ou a ter, pelo menos, controle dos sintomas ou retardo no seu curso
natural. E permitindo assim que se visualizem os
aspectos da vida das pessoas que estão tanto mais saudáveis quanto
prejudicados. Faz-se necessária uma compreensão de qualidade de vida que
harmonize a personalidade em sua subjetividade e, ao mesmo tempo, em relação ao
seu ambiente e à sociedade, abrangendo, assim, a busca da pessoa pela
satisfação das necessidades e dos desejos humanos, espirituais e morais.
No inicio de sua
obra mostra que o vírus está em constante processo de multiplicação em todas as
fases da infecção, incluindo a assintomática, o que vem a ocasionar uma
diminuição da competência imunológica do paciente. Baseados em dados
apresentados pela autora vimos que a dimensão espiritual tem sido considerada essencial para o
conceito de saúde, bem-estar espiritual e qualidade de vida, principalmente
para aqueles pacientes com diagnósticos potencialmente fatais, como é o caso do
portador do HIV/AIDS.
Outra dimensão abordada
por Saionara é
que os sintomas do
HIV/AIDS podem, às vezes, transcorrer meses ou anos para se manifestarem, o
tempo médio de desenvolvimento dos sintomas tem sido de quatro a oito anos,
tendo alguns casos que os sintomas só aparecem bem mais tarde, busca-se
conhecer, compreender o que existe de diferente nessas pessoas, quais seriam os
fatores de proteção que podem estar envolvidos? O que está envolvido quando
situações de adversidade são vivenciadas e superadas pelos indivíduos? Poderia,
então, a resiliência e a espiritualidade dos portadores de HIV/AIDS
contribuírem para sua adesão ao tratamento e desta forma melhorarem a qualidade
de vida? Alguns
indivíduos possuem ou desenvolvem possíveis fatores de proteção no
enfrentamento da infecção pelo HIV/AIDS e desta forma convivem com a patologia
sem abandonar o tratamento, enfrentando o preconceito, estigmatizando, etc.,
cuja espiritualidade pode está presente, contribuindo para o desenvolvimento de
respostas positivas por parte desses indivíduos, refletindo a realidade de
alguns indivíduos portadores de HIV/AIDS que conseguem levar uma vida mais
saudável, após o diagnóstico; ou de mulheres que estavam afastadas de
tratamento e que o retornaram em virtude de uma gravidez.
A autora salienta que quando alguns dos direitos
dos portadores do HIV/AIDS são violados, o que acontece em muitos casos, eles
se sentem discriminados, abandonados, até mesmo nas suas escolhas religiosas,
já que para muitos portadores, essa é a válvula de escape para suportar as
inúmeras dificuldades do cotidiano, é o refugio para não perderem o elã pela
vida, para continuarem buscando no seu intimo, a força e energia
necessárias para superar as adversidades da vida, mais nem todos os portadores
do HIV/AIDS tem essa propriedade, e é isso que buscam incessantemente, para
desta forma melhorar a qualidade de vida e consequentemente o seu bem estar
espiritual, levando a vida com mais prazer e otimismo.
Saionara nos
mostra que para ter sucesso é necessário que o tratamento para HIV/AIDS, tenha uma boa adesão aos
esquemas terapêuticos, afim de que estes sejam efetivos. Nesse contexto, o
apoio social e familiar é um fator importante, já que a adesão pode exigir a
reorganização da vida diária e até a revelação do soro-positividade às pessoas
mais próximas e é nesses momentos que em alguns núcleos familiares os vínculos
religiosos e espirituais são fortalecidos.
Outro aspecto segundo
a autora da obra que temos que deter é a crescente incidência de casos de
HIV/AIDS no sexo feminino é preocupante, repercutindo na feminização da AIDS, o
aumento da vulnerabilidade feminina facilita a infecção pelo vírus e
consequentemente o desenvolvimento da doença. Devido às mulheres geralmente se
envolverem em relacionamento estáveis e com parceiros fixos, dá a elas uma
certeza de proteção contra a AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis,
nesse contexto, o uso do preservativo é um mero método contraceptivo, o que é o
grande equivoco da maioria, elas se sentem “seguras” e quando são surpreendidos
pela positividade da AIDS, seus mundos desmoronam.
A autora faz uma
análise das falas dos protagonistas acima, sugere-se que os mesmos
independentes da religião seguida, imaginam “Deus” como um ser que parece
indissociável para os momentos de angústia, de desamparo, de prazer, embora se
observe alguma diferença na intensidade desses discursos, quando além da fala,
observa-se o sexo da pessoa entrevistada, nota-se que os discursos masculinos,
trazem um Deus como um guia, enquanto que nos discursos femininos é visto com o
Deus sem o qual não se é ninguém, o que nos sugere uma influência da categoria
gênero.
Saionara
salientar que o estado
brasileiro é laico, e assegura a liberdade de crença religiosa a todos os seus
habitantes; podemos confirma isso nas falas dos protagonistas do estudo no
questionamento em foco, onde foram encontradas todas as religiões e credos;
nelas podemos constatar que é notória a vinculação dos nossos protagonistas com
relação à colaboração que suas religiões dão na aceitação e no enfrentamento de
suas doenças. Através da religião, muitos procuram
um “caminho” menos doloroso, mais fácil para encontrarem sua válvula de escape,
“válvula” necessária a todo ser humano, onde podem descarregar todas as suas
angustias, anseios, preocupações, na tentativa de não guardar tudo para si, não
se fechar para o mundo carreado de “coisas” pesadas que o façam sofrer.
Ao longo da obra a autora
nos coloca a pensar que o último século testemunhou o surgimento da Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida (SIDA) ou AIDS (AcquiredImunode ficiencySyndrome),
que pela sua gravidade e rápida incidência, passou a ser considerada um grande
problema de saúde pública no cenário mundial. O surgimento da doença por estar
inicialmente relacionada aos grupos de viciados em drogas, prostitutas e
homossexuais, veio carregado de estigma, que perdura até os dias de hoje, mesmo
com a mudança do perfil dos portadores. Assim, a convivência com uma doença
incurável, o preconceito da família, dos amigos e da sociedade, passaram a
fazer parte do cotidiano dos portadores do HIV/AIDS, vindo a ser fator agressor
em potencial, que interferindo na qualidade de vida dos mesmos.
Nesta obra Saionara
aponta que, 85% dos protagonistas eram do sexo masculino e 15% do sexo
feminino, com idade em ambos os sexos variando entre 19 e acima de 60 anos.
Observou-se ainda que, 50% de ambos os sexos eram casados. A grande
predominância eram adeptos das religiões com raiz no cristianismo, sendo 45% de
católicos e 21,67% de protestantes. A maioria dos entrevistados pertencia à
raça negra, 59,1%, 17,8% se declararam analfabetos e/ou alfabetizados, pois independente
da idade, sexo, raça ou religião, os portadores do HIV/AIDS reconheciam sua
fragilidade diante da doença. Alguns referiram que seus filhos eram a única
razão para continuarem lutando pela vida, outros seus deuses e ainda houve
aqueles que reconheciam no próprio eu, o sentido para continuar vivendo.
Portanto Saionara
ressaltar que, a abordagem quanto às questões vinculadas à
religiosidade/espiritualidade contribuíram para a aproximação entre o
pesquisador e o paciente, favorecendo assim o entendimento deste quanto à
doença e facilitando as intervenções em saúde necessárias ao tratamento.
Considera-se assim, a importância da equipe multiprofissional utilizar esta relação
com o mundo divino, como forma de instrumentalizar a assistência,
possibilitando uma relação de cuidar humanizado tanto aos portadores do
HIV/AIDS quanto as suas famílias.
Porem, a autora ressalta que é possível melhorar essa realidade e que
apesar da doença e dos problemas decorrentes dela, todo (a)s consideraram
possuir uma boa qualidade de vida, e tentavam aprender a viver e a conviver com
a doença, transformando o seu dia-a-dia em uma luta constante pelo respeito e
pela dignidade. Considera-se assim, que todos conseguiram expressar e
desenvolver a resiliência, característica peculiar daquelas pessoas que não
desistem diante da luta, ao contrário, saem dela fortalecidos. Sendo assim,
observa-se que a espiritualidade tem sido elemento essencial no enfrentamento
da doença, e consequentemente na melhoria da condição de saúde.